Hoje
vivemos com algo que acredito que não mais viveremos sem. O advento da
inteligência artificial trouxe facilidades inimagináveis àqueles que viveram há
algumas décadas antes de nós. E seu avanço nos coloca a pensar sobre muitas
questões. Dentre elas o automatismo, cada vez mais presente, das muitas
atividades desempenhadas por seres humanos. Se você quiser uma capa para o seu
livro, por exemplo, basta enviar alguns comandos para o “robô talentoso” e ele
o presenteará com algo que, talvez, encha os seus olhos. Não vou adentrar as
discussões éticas e legais em torno do assunto, mas o fato é que capistas, como
são chamados aqueles que produzem capas para livros, agora possuem uma interessante
concorrência.
Diante
disso, eis que surge o questionamento: poderia a inteligência artificial
substituir os seres humanos na prática da psicoterapia? Adianto que, na
minha visão, não. No entanto, é importante que olhemos com atenção para a
questão. Afinal, de acordo com o portal UOL, milhões de brasileiros já
utilizaram alguma IA como uma forma de psicoterapia. E o número tende a
aumentar.
O
uso de tais ferramentas como suporte psicológico não é de todo ruim. Deixe-me
explicar... A IA, em sua essência, existe para a resolução de problemas
práticos do nosso cotidiano. Se você quer uma receita de pudim, por
exemplo, não precisa mais passar horas procurando aquele caderninho de receitas
que sua avó lhe deu. Basta dar um oi para o seu assistente de assuntos
urgentes e, voilà!, é só reunir os ingredientes e mãos à obra! Então por
que tal recurso não seria benéfico se precisamos de dicas para assimilar
o conteúdo da prova que faremos para um concurso? Ou se, em um momento de
nervosismo, só estamos à procura de dicas para relaxar? Problemas
práticos, não? Quero dizer, com isso, que se estivermos atrás de tais
ferramentas para resolver assuntos pontuais, não vejo o quão maléficas elas
podem ser.
Entretanto,
a IA é incapaz de nos acompanhar em questões profundas e existenciais.
O
que ocorre é que em um processo de psicoterapia com outro ser humano, ainda que
o façamos através da tela de um celular, acabamos confrontados por um olhar
de verdade. Se na troca com mensagens com um robô ele escolhe as palavras
certas baseado naquilo que já sabe sobre nós, tentando transmitir um
acolhimento – ironicamente – artificial, apenas para que nos sintamos melhores,
em uma sessão de psicoterapia real e verdadeira nem sempre ouviremos coisas
bonitinhas e encorajadoras, ao contrário, por vezes seremos confrontados por
aquilo que não queremos olhar, por aquilo que queremos manter escondidos de
nós. Mas, e o que vou dizer é importante, é com desconforto que o
crescimento acontece!
Se
apenas somos bajulados e incentivados, encorajados e elogiados, corremos o
risco de desenvolver uma autoimagem – de novo, ironicamente – artificial. Não
somos convidados ao contraponto, nem levados a pensar no outro lado de nosso
ser. Acabamos apenas reforçados naquilo que já vemos e, admitimos,
queríamos para sempre ver. Mas, se ao contrário, somos, com suporte e
acolhimento, desafiados a encarar nossas sombras, nossas resistências, nossas
evitações e nossas distorções, tendo a chance de compreender em que medida
somos responsáveis pela construção de nosso próprio sofrimento, acabamos
libertos! Doeu. Foi incômodo. Lágrimas puderam ter rolado. Ao menos não
mais ficaremos aprisionados a posicionamentos imaturos, ideias falsas, a uma
autoimagem superficial e volátil.
E
ao sermos acolhidos por outro ser humano de carne, osso e sentimentos, mesmo
com todas as nossas “imperfeições”, e mesmo com todos aqueles motivos que
elegemos como suficientes para sermos odiados, acabamos tendo uma nova
experiência no contato com o mundo: não precisamos ser “perfeitos” para
sermos aceitos por alguém – podemos, então, nos aceitar também.
Sinto muito, mas não acredito que a IA tenha essa mesma capacidade, afinal, não
somos bobos, no fundo sabemos, estamos conversando com algo que nem existe – no
sentido profundo do que é existir.
Só
que para além de tudo o que eu poderia elencar aqui, no encontro com outro
ser humano o elemento que verdadeiramente “cura” não diz respeito a palavras
bonitas, discursos eloquentes, nem convencimentos articulados, mas a relação
genuína, autêntica e presente! Você pode se consultar com o
psicoterapeuta mais badalado do momento, mas se não for capaz de se conectar
com ele, se não for capaz de desfrutar de uma relação terapêutica verdadeira,
pouca coisa mudará. Pois a relação é fundamental para um processo de
psicoterapia. Sermos vistos, ouvidos e compreendidos é fundamental para o
nosso crescimento. Sermos confrontados, desafiados e convidados a encarar o
incômodo é fundamental para a nossa libertação. Termos suporte, ao mesmo
tempo em que somos frustrados em nossas formas habituais e não saudáveis, é
essencial para que tenhamos a chance de entender o que fazemos, como fazemos,
para que fazemos e se há a possibilidade de fazermos diferente em prol daquilo
que buscamos no mundo. Algo que, no meu entendimento, só acontece na
caminhada junto a outro ser humano que será como um espelho: não um espelho com
filtro, mas um espelho que mostra a realidade como ela é e fará a provocação
quando necessário: se isso o desagrada, o que pode ser mudado?
Algo que a IA, por mais evoluída que seja, também não pode fazer como o faz
alguém com um olhar sensível àquele que o procura.
(*)
Notícia UOL: https://noticias.uol.com.br/newsletters/uol-prime/ia.htm
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