O conhecimento tem se democratizado. O que é uma boa notícia. Hoje, por exemplo, podemos fazer um rápido acesso no Google para lermos importantes artigos sobre determinados assuntos. No entanto, essa democratização, quando contaminada por uma falta de responsabilidade com aquilo que é transmitido, pode se tornar um perigoso instrumento. Isso porque muitas informações que necessitam de maior aprofundamento e embasamento têm sido passadas de forma superficial e inconsequente, gerando, paradoxalmente, desinformação e falta de conhecimento, até mesmo desespero e graves equívocos!
A Psicologia tem ganhado, a cada dia, os holofotes. Na verdade, o tema “saúde mental”, de maneira geral, tem se popularizado conforme passam-se os dias. E não é para menos. Em um mundo cada vez mais competitivo e performático as pessoas têm se adoecido na busca por ideais fantasiosos que desrespeitam suas inerentes limitações. Provam de desânimo, de desespero, de angústia, de falta de sentido às suas vidas. E acabam se interessando por discussões que, de alguma maneira, as auxiliem na lida com o sofrimento. Encontram em livros, podcasts e vídeos, por exemplo, as reflexões que as ajudariam a alcançar alguma melhora. Isso é bom. Se antes havia muito estigma em torno da saúde mental, hoje o esclarecimento tem facilitado o acesso a essa importante ferramenta de promoção de qualidade de vida.
Só que, infelizmente, a possibilidade de uma transmissão e de um acesso democráticos do conhecimento têm feito com que assuntos tão complexos acabem banalizados, dentre eles, o psicodiagnóstico, um conceito extremamente difícil e complicado para que seja colocado em vídeos que duram menos de um minuto. Vídeos que, aparentemente com caráter “educativo”, só geram dúvidas, questionamentos e grotescos erros ao apontarem que, se houver sintoma A, sintoma B e sintoma C, então haverá o transtorno D, por exemplo. E o problema nem reside aí, porque de fato, quando pegamos os manuais que trabalham com critérios diagnósticos podemos ver que determinados sintomas aparecem em determinados transtornos. O psicodiagnóstico, contudo, não se trata de um apanhado de sintomas, afinal de contas, dor de cabeça pode significar gripe, mas também pode ser um indício de insônia.
Quando falamos de psicodiagnóstico precisamos ter clareza quanto ao fato de que aqueles sintomas que aparecem precisam cumprir outros requisitos, como, por exemplo, frequência, intensidade e até mesmo sua interação com outros sintomas e fatores presentes na vida da pessoa. “Desânimo” pode ser um sintoma de depressão, eu concordo. Mas também pode denunciar falta de vitamina D naquele organismo. Não dá para dizer que se há desânimo então necessariamente há depressão. Não é assim que funciona. E é isso o que esses vídeos curtos, ou outros tipos de conteúdos “fast”, “esquecem-se” de informar. O resultado? Pessoas que começam a diagnosticar a si próprias e a se definirem por esses “diagnósticos”. Ou, ainda pior, pessoas que começam a diagnosticar os outros – hoje todo mundo é narcisista. E nessa não se dão conta de tudo o que está implicado em “possuir” um transtorno, em todo o sofrimento que pode ser experimentado.
Portanto, faz-se necessário responsabilidade na hora da divulgação desse tipo de informação. Os sintomas de um transtorno, por exemplo, não podem ser vistos isoladamente e nem em si mesmos. Há variáveis que devem ser consideradas. Variáveis que podem transformar todo um entendimento e identificar que, o que parece depressão, é na verdade um problema na tireoide. E, para além disso, uma compreensão diagnóstica não deve levar em conta apenas os aspectos “adoecidos” daquela pessoa, mas, sem dúvidas, deve incluir seus aspectos saudáveis, pois eles podem auxiliá-la em seu processo de restauração da própria saúde. Mas isso, infelizmente, os conteúdos “fast” também não mostram.
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