Há falas que, aparentemente, soam inofensivas. Porém, carregam consigo um significado que pode se arrastar ao longo dos anos de desenvolvimento daquele que as ouviu. Sobretudo quando se tratam de falas que aconteceram na infância, ou mesmo na adolescência, períodos tão críticos para a construção da personalidade e da identidade de uma pessoa. Período também sensível a toda sorte de experiências vivenciadas nessa fase. Experiências que podem reverberar por anos. Que podem nos acompanhar até o fim.
E não é que façamos por maldade. Em alguns momentos, talvez. No geral, entretanto, são falas simplesmente reproduzidas, pois nós também as ouvimos e, então, adotamos como uma verdade. Dentre essas falas a de que “criança não tem o que querer” e suas variações como “eu sei o que é melhor para você”. Geralmente são proferidas por adultos que, contrariados pela teimosia infantil, fazem valer a sua vontade se utilizando de um argumento tão equivocado. Pessoas possuem gostos. Crianças são pessoas. Logo, crianças possuem gostos, podem querer e, sim, sabem o que é melhor para elas. Claro que não em um sentido irrestrito, não nos esqueçamos de que estão se desenvolvendo. Mas se ela está com sede e está dizendo que está com sede, como podemos lhe dizer que é graça?
Há momentos nos quais cabe aos adultos darem os contornos necessários à experiência de uma criança ou de um adolescente, por exemplo, afinal de contas estão aprendendo a viver e precisam de um fundamento do qual emergir. A questão aqui é que esses contornos não podem ser dados de forma autoritária, desqualificadora, desconsiderando os sentimentos daquele ser humano que, crescendo, absorve muito do que escuta, observa e aprende. “Eu sei o que é melhor para você” talvez não tenha tantas implicações a alguém que, firme em sua posição, apenas dá risada. No entanto, pode ser fatal a alguém que, tendendo a ter dificuldade para frustrar o mundo, cresce achando que cabe ao outro lhe dizer o que é ou não melhor e acaba desconectado de suas próprias vontades, de seus próprios sentimentos, tornando-se um adulto que por vezes se depara com uma vida sem sentido: sem o seu próprio sentido.
E quebrar essa introjeção que se forma dentro de nós e acaba cristalizada envolve, por vezes, um árduo trabalho. Isso porque ela carrega consigo uma série de crenças angustiantes e incômodas, como a de que se fizermos valer o que realmente queremos então não mais apreciarão a nossa companhia. Entre viver o que se deseja e correr o risco de ficar sozinho ou aceitar as demandas do mundo e, aparentemente, assegurar companhias, muitos se submetem a relacionamentos extremamente difíceis e descompensadores, sem terem a noção de que ao se assumirem talvez muitos lhes deem as costas, mas outros se achegarão atraídos por sua autenticidade.
As palavras têm poder. E isso nunca deixa de fazer sentido.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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