A
psicoterapia, nos últimos tempos, tem conquistado espaço entre as pessoas,
sobretudo devido à sua eficácia no auxílio com a lida das problemáticas que
se apresentam em nossa existência. Ela não se propõe a resolver nossos
problemas da maneira como poderíamos imaginar. No entanto, instrumentaliza-nos
para que, a partir de nós mesmos, resolvamos nossos incômodos ou aprendamos a
conviver com aquilo que não podemos transformar. O que é libertador, pois, se
aceito aquilo que é, não mais sofro por aquilo que eu penso que deveria ser,
contemplo a vida como ela se apresenta, não fico aprisionado em ilusões
construídas sem reflexão.
Mas,
o que é psicoterapia? Para isso, precisamos entender o significado da palavra,
a começar por sua primeira parte: psykhé. De origem grega, o termo psykhé
pode significar alma, mente, espírito. Logo, Psicologia,
por exemplo, seria como o estudo da alma ou, para os nossos propósitos, o
estudo e a compreensão da mente. Therapeia, também do grego,
quer dizer tratamento, cuidado, serviço, podendo ainda ter
um sentido de atendimento ou serviço de ajuda. Pense aí nas
tantas “terapias” que existem e perceba o que há de comum em todas elas: sua
intenção de, a partir de um cuidado, oferecer alguma ajuda traduzida em alívio,
em conforto, em superação!
Psicoterapia,
portanto, em um sentido literal, talvez possa ser descrita como o tratamento
da alma ou cuidado da mente, cujo objetivo é tornar o “viver a vida”
mais saudável, mais fluido, mais possível. Mas perceba. Aqui não há nenhuma
menção a uma cura definitiva, a uma resolução permanente, ao desenvolvimento de
um ser humano acima de qualquer limitação ou condição. Isso não existe. E
não existe porque as problemáticas da vida se alternam e alteram. Hoje
enfrentamos as dores de ver nosso filho se tornar adolescente, amanhã seremos
convidados a lidar com o luto pelos nossos pais e num possível amanhã talvez
sejamos confrontados com os incômodos do nosso envelhecer, de maneira que
sempre seremos desafiados pelas coisas da vida e, portanto, essa coisa de “pessoa
bem resolvida” se revela apenas uma falácia que vende curso...
Tornar a vida mais fluida é nos ajudar a não cristalizar em experiências
passadas, em dores antigas, compreendendo que o tempo continua, a vida avança e
há outros horizontes a serem apreciados para que, mesmo em meio a lágrimas,
sejamos convidados a um inesperado sorriso. Fluir com a vida é basicamente
isso: feridos, sim; paralisados, apenas se prendermos nossas pernas.
A
questão é que nem todos conseguem essa fluidez seja por qual razão for. Passam
por dores angustiantes, traumas, e, assim, não conseguem ver possibilidades na
vida, vida esta que é encantadora: preenchida por dores, concordo,
recheada por encantos, confesso... Com os olhos distorcidos ou
impedidos, precisam de ajuda para resgataram a fé em si mesmos. E, novamente,
perceba, o resgate é pessoal e individual. A figura de um psicoterapeuta,
aquele que está a serviço do cuidado da mente, não deve ser vista como a um de
messias poderoso, mas como a de um acompanhante paciente e acolhedor na
longa estrada rumo a nós mesmos. Se eu tivesse que definir
psicoterapia, então, seria isso: é o caminho que trilhamos, o processo que
vivemos, rumo não a uma cura em si, mas a uma saúde existencial que nos
permita, em meio à dor e ao sofrimento, encontrar alívio nos mais pequeninos
dos encantos e descobrir prazer habitando em nosso ser.
E,
para viajarmos, não há apenas uma forma. Podemos ir andando a depender da
distância. Ou podemos ir de bicicleta. Podemos pegar um carro, ou comprar
passagens de ônibus. Podemos ir de navio! Ou podemos sobrevoar os céus dentro
de um avião... Enfim, há variadas maneiras através das quais podemos sair de
um lugar rumo a outro. Com a estrada rumo a nós mesmos não é diferente.
Podemos trilhar esse caminho a partir de diferentes veículos, olhares,
percepções, ao que chamaremos de “Abordagens Psicoterapêuticas”. Uma abordagem
é o modo como alguém se aproxima, trata ou lida com um tema, uma situação,
uma pessoa. “Fulano possui uma abordagem criteriosa em suas avaliações” é
como dizer que ele tem um modo criterioso, detalhista, de tecer suas críticas e
observações. No contexto psicoterapêutico, então, levando em consideração que
psicoterapia é aquele caminhar cuidadoso em nossa direção, uma abordagem pode
ser descrita como a forma como faremos essa caminhada. Ou, em termos
mais aprofundados, é o conjunto de ideias, métodos e princípios que orientam
como o terapeuta entende o ser humano, conduz o processo terapêutico e
acompanha seu paciente (ou cliente) nessa aventura de autodescoberta e
autoconhecimento.
Essa
forma diz respeito às nossas particularidades e individualidades. Uma
abordagem psicoterapêutica reflete nosso modo de ver a vida, contemplar o mundo
e compreender o ser humano. Daí existirem vários exemplos e daí várias
pessoas expressarem falas como “não me adaptei à forma de determinado
profissional, mas simplesmente me encontrei com outro”. Por isso se torna tão
importante que haja uma bússola nessas viagens que são realizadas. Não que não
possamos conhecer um pouco de cada abordagem. Isso pode ser importante. Mas
eleger uma como a nossa maior orientadora, no que diz respeito aos
profissionais de psicoterapia, é de suma importância.
Não
me estenderei acerca das abordagens existentes, pois são tantas e não merecem
pinceladas rasas num texto curto. Mas, a título de exemplo, Terapia
Cognitivo-Comportamental, Gestalt-terapia, Psicologia Analítica (ou Junguiana),
Análise Existencial, Logoterapia e Abordagem Centrada na Pessoa (ou Abordagem
Rogeriana) são alguns dos veículos possíveis na tal viagem repleta de
inesperados e surpresas, com a possibilidade de um crescimento e amadurecimento
sem precedentes: crescidos, assumimos riscos; amadurecidos, entendemos que a
vida não é uma coisa ou outra, mas uma amplitude de possibilidades!
Existe
isso de abordagem melhor ou pior? Não concordo. Pois cada abordagem possui
metodologias, bases epistemológicas e filosóficas próprias que lhes dão
sustentação e embasamento, sendo, portanto, muito mais importante o
motorista que o carro em si. Não sendo verdades absolutas e trabalhando com
algo que não é exatamente concreto – o ser humano em sua condição de eterno vir
a ser –, as abordagens psicoterapêuticas podem, sim, apresentar
limitações, ficando claro, portanto, a importância de um estudo constante para
que as novidades da vida sejam contempladas em sua manifestação!
Por
fim, mas acima de qualquer questão, a psicoterapia, para ter verdadeira
eficácia, precisa se sustentar em um pilar fundamental: o da relação.
O encontro deve ser genuíno e autêntico, verdadeiro e sincero. Aqueles que,
juntos, se propõem a trilhar a estrada do cuidado existencial, precisam estar
presentes, conscientes, atentos às esquinas nas quais viram, aos obstáculos com
os quais se deparam, às sinalizações que por vezes permitem acelerar e por
vezes determinam o frear, pois, sendo fluxo, a vida tem um ritmo:
“esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta”*. Por
consequência, a psicoterapia, lugar onde a vida se desdobra em seus inícios,
fins e continuidades, também tem um ritmo a obedecer: eis a beleza do processo
psicoterapêutico!
(*)
Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas
(Texto
de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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