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[Psicologia] O indivíduo e seu contexto

 


Por muito tempo as questões psicológicas foram tratadas exclusivamente como sendo um problema individual. Portanto, diante de um “ansioso”, as intervenções terapêuticas focalizavam em como ele desenvolvera seus sintomas, mantinha-os e poderia se livrar deles. No entanto, em muitos casos isso não era o bastante. Talvez o fosse por um tempo, quando o indivíduo aprendia a “se acalmar” respirando fundo, por exemplo. Mas a vida continuava. E os sintomas, apenas apaziguados, com tudo retornavam. Isso porque “apaziguar” não é o mesmo que “resolver”, apesar que “resolução” não costuma ser o termo mais adequado quando falamos em saúde mental. É leviano prometer uma cura total e um bem-estar inabalável. Isso porque a vida abarca uma amplitude de experiências que se alternam entre si num constante “morde e assopra”. É mais prudente oferecer a capacidade de, olhando para os próprios recursos, enfrentar as dores do existir.

 

A questão é que, individualizando as questões do sujeito, perdia-se uma dimensão de extrema importância: seu contexto. Pois, de que importa cuidar de uma “criança ansiosa” sem levar em consideração o relacionamento conturbado e ansiogênico de seus pais? Ou, de que adianta aliviar o estresse de alguém que sofre de Burnout sem ponderar que seu chefe adota uma postura sempre tão exigente e ameaçadora? Mas, como olhar para esse chefe, sem considerar que vivemos numa cultura que cobra por lucro a todo tempo? Percebe? Quando olhamos apenas para o indivíduo deixamos de trazer luz para a implicação que o social possui em seu “problema”. Mas quando olhamos para as suas relações, temos condições de compreender o quanto a cultura pode ser adoecedora. E isso desafia o status quo, é claro: “Se não sou apenas eu o problema, partirei em busca de mudanças”. Mudanças que, eventualmente, ecoarão desconfortos.

 


O olhar para o contexto geral das pessoas é de suma importância quando falamos em saúde mental. É claro que há questões que possuem uma grande parcela da nossa responsabilidade, mas me custa pensar que todas as nossas questões sejam mesmo apenas nossas, pois, quaisquer que sejam, desdobram-se em nossas relações, originam-se nelas ou são por elas reforçadas. Se sou uma pessoa que possuo dificuldades para ouvir aquilo que pensam de contrário a mim, posso exercitar minha habilidade de escuta compreendendo que, por certo, em algum momento, tão obrigado a ouvir aquilo que não queria, dessensibilizei meus ouvidos em um gesto de defesa, mas que, agora, sendo quem sou, e tendo a habilidade de me posicionar mais assertivamente, não preciso mais me fazer de surdo. Ou mesmo se sou uma pessoa que não consegue se expressar, posso libertar os meus lábios compreendendo que, quando falava, era reprimido e rechaçado, e, então, indefeso, na busca por manter minha integridade, silenciei-me, mas que, agora, sendo quem sou, crescido como estou, já não preciso me calar invalidando aquilo em que acredito... Percebe? Há coisas que, individualmente, consigo transformar. Mas, se sou aquela pessoa sempre atarefada, na correria pelos prazos, querendo dar conta de tudo e todos, posso compreender que isso faz parte da minha necessidade de ser aceito e reconhecido pelos outros, no entanto, também posso agir debaixo da premissa que paira sobre nossas cabeças convidando-nos a um desdobrar desumano, pois, “tempo é dinheiro”. Compreender isso é desafiar aquilo que engolimos sem qualquer reflexão, só porque disseram que era a verdade. E, ao questionarmos tais verdades, então incomodamos aquele sistema que nos quer dócil e obediente, explorável e manipulável... Afinal, pare e pense... Aquele que só escuta e nada fala, é perfeito para um projeto de dominação e subserviência.

 

Fica então a problematização para que, frente às nossas questões e dilemas, jamais percamos de vista o momento que vivemos, o contexto ao qual pertencemos. Às vezes estamos em um lugar adoecedor e, enquanto não formos capazes de entender isso, também não seremos capazes de entender que é apenas nos libertando dele que teremos chance de alguma paz!

 (Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)

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