Acredito que uma das palavras que ajudariam a definir a vida se precisássemos responder do que ela se trata seria “processo”. Isso porque, se prestarmos cuidadosa atenção, veremos que tudo o que existe na natureza obedece a um ritmo, a uma intensidade, a um tempo, em resumo, a um processo. A terra precisa ser arada. A semente deve ser plantada e regada. O brotinho precisa ser protegido para que cresça e floresça. Até que, depois de anos, o que começou como uma coisa tão minúscula, enraíza-se profundamente sobre a terra e cresce formoso rumo ao céu. Mas não aconteceu de uma hora para outra, bastando um estalar de dedos. Ao contrário. Houve um processo que precisou ser respeitado e obedecido. Sem processo não haveria resultado. Não haveria a existência de algo.
Só que temos vivido em um mundo tão frenético e ansioso por desfechos, conclusões, resultados que se deem de forma espontânea. Está tudo muito rápido. Hoje as pessoas aceleram filmes, áudios e vídeos pois querem saber logo o que há para ser sabido. Querem abreviar o tempo das coisas. Não percebem que isso é perigoso, pois podem correr o risco de abreviar a vida. E a vida, diferente de coisas passageiras, banais e até efêmeras, é valiosa demais para que seja abreviada. Além de ser ligeira. Como podemos tornar ainda mais curto o que, por si só, pode aparentemente ser insuficiente? E digo aparentemente porque a vida é suficiente para aqueles que sabem vivê-la: para aqueles que, conscientes, conseguem compreender que há um processo para que tudo se desenvolva e, além disso, apreciam tal processo. Mas insuficiente àqueles que, apressados, tentando acelerar tudo, desconectados do passar do tempo, acabam desconectados de si mesmos e de suas existências.
E isso tem chegado aos consultórios psicológicos. Pessoas apressadas, afobadas, sedentas por uma palavra mágica que acreditam que será proferida por aquele que as atende e que resolverá todos os seus problemas em um minuto de apenas uma sessão. O que é um equívoco. A psicoterapia, de certa forma, é uma imitação da vida e é um ambiente que nos ajuda a reproduzir a forma como vivemos e nos relacionamos com as pessoas, com o mundo e conosco mesmos. Sendo, então, “imitação da vida”, também obedece ao princípio de que tudo envolve um processo. Só que em uma situação psicoterapêutica isso é ainda mais importante porque o indivíduo, em sua reconstrução e reconfiguração, precisa de tempo para integrar o que, por uma vida, alienou, precisa de tempo para se estruturar e fortalecer ao ponto de ser capaz de bancar escolhas diferentes que trarão resultados desconhecidos. Alguém que, por exemplo, é incapaz de dizer não, precisa compreender as suas dificuldades, aprofundar-se em seus medos, entender por que lhe é tão doloroso frustrar o mundo mesmo que, por essa inabilidade, acabe frustrado. E enquanto descobre essas coisas vai se libertando de crenças e bloqueios, vai se aproximando da possibilidade de colocar limites mais claros e demarcados entre ela e o mundo, vai se fortalecendo para ter condições de dizer o tão sonhado “não”. Tudo isso para que não passe a agir de uma forma desconhecida sem antes ter se preparado, o que pode ser desastroso. E isso, sinto muito, ou nem tanto, precisa obedecer a um processo. Não é com o primeiro exercício que você adquire os músculos cobiçados. Não é com uma primeira conversa sobre si mesmo que toda a sua vida se desvela.
O processo nos dá segurança, firmeza e constância. O processo faz com que um prédio seja erguido e as pessoas nele consigam morar sem a preocupação de que tudo desmorone sobre suas cabeças. O processo permite que um bebê se desenvolva até se tornar um adulto. E o processo bem vivido, bem respeitado e bem apreciado é o que garante para nós uma viagem confortável rumo a nós mesmos – viagem que poderá ter suas intempéries, é claro, mas que ainda assim se manterá segura: lidaremos com as dificuldades que, no momento, der para lidar. Quanto ao resto… É com o processo que nos encaminharemos a ele.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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