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[Reflexão] Embriagados pelo prazer

 


Prazer, prazer e mais prazer. Alguns de nós pensam que se a vida fosse um eterno prazer isso seria muito prazeroso. Tudo bem. Se pensarmos de forma rápida e superficial, uma vida eternamente prazerosa parece, de fato, muito sedutora. Imagine só! Sem dor, sem angústia, sem tormento! A vida dos sonhos! Uma vida em completo hedonismo. Uma vida que jamais desejaríamos para que acabasse. Mas essa vida não existe. Ou talvez exista de forma sutil. Isso porque o ser humano sempre foi muito criativo ao preencher o seu tédio com coisas prazerosas. No entanto, nos últimos anos, com o avanço imensurável da tecnologia, o prazer tem estado na ponta de nossos dedos. Você só fica entediado se quiser (e se souber o benefício que há em momentos de puro silenciamento). Porque sempre há algo a ser feito com aquele tempo de sobra. Filmes, séries, vídeos curtos, substâncias liberadas, comportamentos de todos os tipos! A vida é uma festa! Ou podemos fazer do nosso tédio um grande evento de animação. Fato é que estamos a cada dia mais e mais embriagados pela busca do prazer.

Não... não estou dizendo que estamos todos sedentos por lugares nos quais tudo – extremamente tudo – seja permitido. Apesar que esse pensamento também faz sentido. Refiro-me a prazeres, digamos... mais socialmente aceitos. Coisas que nos distraem, coisas que nos fazem rir abobados, coisas que nos façam esquecer a miséria humana. E, de novo, não estou dizendo que nossa condição é miserável. Estou apenas dizendo que a busca por um prazer incessante nos faz esquecer que há mazelas e que nós mesmos somos desafiados pela vida a fazermos dela algo digno de ser vivido. A responsabilidade é nossa por dar um sentido à existência que queremos viver. O problema é que a busca pelo prazer faz tudo parecer divertido e acessível e, assim, afastamo-nos da nossa obrigação de, a próprio punho, compormos a história que queremos ler.

E esse prazer é traiçoeiro. Isso porque nos leva a um caminho tenebroso. Afasta-nos de nós mesmos, de nossas indagações, de questionamentos que nos ajudariam a sermos pessoas mais evoluídas. E quando digo evoluída não quero dizer no sentido “legal”, “descolado”, quero dizer no sentido profundo, no sentido de deixarmos a nossa mediocridade e nos tornarmos seres dignos de serem chamados de racionais. Porque o prazer ilimitado apenas nos apequena, torna-nos bobos e lança-nos a uma falsa sensação de bem-estar. Os estímulos cessam, os prazeres acabam e lá estamos nós outra vez buscando por outros estímulos que nos tirem da realidade.

Esses dias assisti a um filme lançado pela Netflix. Era a continuação do clássico “A Fuga das Galinhas”. Nesse filme, em questão, as galinhas são hipnotizadas e colocadas em um cárcere divertido. Tudo lá é falso. Até a grama é de mentira. Quanto mais o prazer que elas acreditam estar sentido. O propósito? A carne, segundo o cientista do filme, ficaria mais gostosa se as galinhas estivessem mais felizes na hora da morte. Porque era para isso que elas foram hipnotizadas. Não foi pelo bem-estar. Não foi pela saúde. Não foi por nenhum benefício do qual pudessem desfrutar. Foi apenas para que virassem deliciosos e saborosos nuggets.

Por que será que somos bombardeados por uma infinidade de estímulos prazerosos? Desde as pequenas atualizações de que o nosso pedido no aplicativo está prestes a chegar até à promessa de que se você pode sonhar, então você pode realizar. É tudo tão atrativo. É tudo tão sedutor. são tudo tão hipnotizador. E qual é o propósito? Fazermos de nós pessoas mais felizes e saudáveis? Pessoas mais equilibradas e mentalmente fortalecidas? Você já deve ter percebido que não é isso o que penso. Não que eu pense que estamos sendo preparados para virarmos deliciosos e saborosos hambúrgueres. Mas nessa oferta de prazeres superficiais e ilimitados há um mecanismo poderoso: pessoas manipuláveis.

A busca pelo prazer, enfim, pode nos embriagar ao ponto de nos tornarmos incapazes de reconhecer a nós mesmos em nossas escolhas. Isso porque as escolhas não teriam sido verdadeiramente nossas. Não que haja um cientista malvado nos controlando. Apenas estamos escolhendo que escolham por nós.

 Mas há tempo. Você ainda pode se salvar.

 (Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)

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