Acompanhados,
mas não vistos
Tenho
percebido o quanto as pessoas andam sentindo-se sozinhas mesmo rodeadas de
tantas outras... Algumas possuem dezenas ou centenas de amigos. Acumulam
curtidas em redes sociais. Esbanjam o número de seguidores. E podem afirmar
que, se quiserem, podem, a qualquer dia da semana, convidar alguém para sair,
pois estarão acompanhadas. Mesmo assim se sentem sozinhas... E se sentem
assim, pois – começam a observar – nem sempre há profundidade nessas relações.
Nem sempre há uma presença genuína. E nem sempre há um interesse verdadeiro.
É como se, nesses encontros, por vezes tão superficiais e passageiros, os
outros estivessem mais preocupados com as próprias impressões do que com olhar
no olho do outro, sentir a sua pele, ouvir suas palavras, desfrutar de sua
inigualável companhia – inigualável não por ser excepcional, mas por ser única:
só existe uma pessoa como cada pessoa que habita esse mundo...
Só
que, penso eu, isso é apenas reflexo da superficialidade com a qual temos
vivido nossas vidas... Parece que tudo precisa ser vivido ou consumido
rapidamente, pois, em uma realidade de tantas ofertas, é como se estivéssemos
impelidos a aproveitar o máximo de coisas possível. Aceleramos nossos
filmes, pois temos uma infinidade de outros na lista. Abrimos dezenas de abas,
pois não sabemos exatamente o que estamos procurando. Mal apreciamos nossa
refeição, há outra coisa a ser feita daqui a pouco... E assim ficamos no raso,
na superfície, sem de fato sentir aquilo que nos toca – ou tenta nos tocar...
O
que serve para as nossas relações.
Ter
dezenas, centenas ou milhares de seguidores, por exemplo, não é sinônimo de ter
companhia, não é o mesmo que ser visto de verdade. Isso porque essas pessoas
podem estar impressionadas por aquilo que representam de nós, alimentadas por
suas fantasias e expectativas. Mas, então, quando revelamos a nossa
humanidade real, sem distorções ou enfeites, é como se o encanto se desfizesse
– não é o que querem ver. Querem aquela pessoa sempre tão zen, ou
sempre tão divertida, ou sempre tão carismática, ou sempre tão sábia... Mas não
querem saber das nossas facetas vulneráveis, inseguras, incertas, equivocadas –
imperfeitas! Não querem ter que lidar com imperfeições. Querem apenas
nutrir ilusões. E, assim, ao não atendermos a tais idealizações, acabamos
sozinhos... Bate a sensação de que nunca estivemos acompanhados de verdade.
Talvez estivéssemos. O que ocorre é que, muitas vezes, não somos vistos a
partir de como existimos.
Para
além disso, também não nos sentimos vistos em nossas lamentações. Por vezes
temos pessoas que nos “acompanham” em nossos momentos de felicidade, êxtase e
alegria. Riem conosco, divertem-se, falam bobagens... Mas, quando diante de
nossas dores e inquietações, silenciam-se. Afastam-se. Não querem saber disso.
Não querem ser confrontadas por essas coisas desagradáveis que as fazem
considerar suas próprias mazelas. Não conseguem nos ouvir. Ou, mesmo ouvindo,
relativizam o nosso sofrimento. Não se fazem presentes. Atentas. Não é que
queiramos que tenham os discursos transformadores, que nos farão olhar para a
vida por perspectivas tão inovadoras ao ponto de desvendarmos os mistérios do
universo... Não se trata de pessoas salvadoras, pois isso não existe. O
que queremos é que, mesmo numa verdadeira companhia silenciosa, sintamos que
não estamos sozinhos na lida com as adversidades e com os desafios inerentes à
nossa humana condição... só que não conseguem oferecer. Esfriam.
Sentimo-nos frios.
Qual
é a qualidade das relações que temos estabelecido no mundo? E qual é a
qualidade da presença que temos oferecido uns aos outros? Temos nos
aprofundado? Temos nos permitido a conversas profundas? A contatos genuínos? A
entregas destemidas? Temos conhecido o outro como ele verdadeiramente é? Temos
driblado nossas distorções, fantasias e expectativas para que, num olhar mais
puro possível, sejamos capazes de contemplar o outro em sua real existência?
Temos compreendido que somos todos humanos? E que não há entre nós um ser de
luz, livre de todas as circunstâncias que nos incomodam e assustam? Que
possamos nos relacionar com pessoas reais. E que sejamos nós mesmos reais. Que
mesmo na ausência de palavras, sejamos o silêncio que escuta, a companhia que
acolhe, a presença que declara: eu vejo você!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
AMANHÃ: Na reflexão de amanhã, dando sequência à série Verdades Necessárias, conversaremos sobre uma mudança de olhar para o erro: seria ele a possibilidade de um caminho? Não se esqueça de que a série também está disponível no perfil no Instagram e na página no Facebook do blog Coisas da Vida! Eu espero por você!
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