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[Psicologia] Convite à reconstrução

 


Na vida acontecem coisas que convocam que a elas respondamos. Respostas que, em muitos casos, servem à nossa sobrevivência – seja física, seja emocional. O que acontece, no entanto, é que muitas dessas respostas, conforme o tempo avança, perdem o seu valor, tornando-se obsoletas e desatualizadas. Não são atuais porque não correspondem aos recursos que agora possuímos, nem ao momento que aqui vivemos. Ao invés de servirem ao nosso crescimento, alimentam certa estagnação, por mais que pareçam adequadas. Surgem, então, diversos problemas – sejam relacionais, interpessoais ou mesmo individuais. É o nosso organismo nos convidando a olhar para dentro e reconhecer que, quem um dia precisamos ser, agora já não é mais necessário.

 

Para entendermos melhor, vamos pensar numa criança que cresce num ambiente cercado por pais autoritários, ou exigentes, que demonstram alguma espécie de afeto apenas a partir de obediência e sucesso. Temendo perder aquele amor, aquele pertencimento familiar, tal criança, ainda sem tantos recursos, ajusta-se de modo a se tornar a pessoa obediente que procuram, a de ótimas notas que desejam, a de comportamento exemplar que admiram – mesmo que, ao adotar tais posturas, deva parar de ter os interesses comuns a quaisquer crianças... Agindo assim, garante o amor que deseja. Com amor garantido, sua sobrevivência emocional agradece...

 

No entanto, a vida continua.

 

Aquela criança cresce. Torna-se adolescente. E até mesmo adulta. Nesse percurso, quanto mais reforçada foi naquele jeito submisso e perfeccionista de ser, mais cristalizada se encontra nessa forma. No entanto, não consegue perceber que, se antes não tinha recursos o bastante para bancar as próprias necessidades e os próprios interesses, agora pode se posicionar, fazer valer aquilo que sente, aquilo que pensa e viver a partir do que acredita. Se não o aceitarem, poderá ir em busca de lugares melhores – lugares que não a sufoquem. Na falta dessa consciência, porém, continua agindo com submissão a figuras de autoridade (como chefes) ou de afeto (como parceiros românticos). Continua negligenciando a própria necessidade, os próprios interesses, privilegiando aquilo que esperam dela – ou acredita que de si esperam – naquela ânsia por continuar sendo aceita, amada, compreendida e acolhida...

 

Muitas dessas crianças, ao tornarem-se adultas, vivem em relações abusivas e opressoras...

 

A psicoterapia, então, surge como uma oportunidade de revisão da própria vida. Aquela criança, agora adulta, mas de certa forma ainda presa às emoções e inseguranças de tempos passados, tem a possibilidade de compreender como construiu sua forma de estar no mundo, quais os impactos que isso lhe traz e de que maneira ainda tem contribuído para a sua manutenção. Pode se dar conta do que tem perdido, do quanto tem sofrido, do que tem negligenciado, deixado de ver... Pode, ainda, entrar em contato com os reais desejos, a raiva reprimida, a vontade negada de ser imperfeita... A exaustão na qual se encontra por tentar dar conta de tudo – do amor do mundo inteiro, da admiração de todas as pessoas...

 

Ela é convidada, assim, a uma reconstrução. Reconstrução que pode, sim, ser dolorosa – afinal, passa pelo reconhecimento das faltas, das negligências, dos abusos, dos proveitos, das situações de desrespeito, do autoengano e da autoagressão... Mas também é libertadora... Sim, pois liberta dos limites do outro, do contorno do mundo, para que os próprios limites e contornos sejam, enfim, estabelecidos e a vida possa ser vivida com autenticidade e verdade. E aquilo que esteve obsoleto, dê lugar a algo atualizado com as necessidades do agora e as possibilidades do aqui – floresce, assim, uma nova forma, mais saudável, mais fluida e mais livre, de no mundo estar!

 (Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)

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