Na
vida acontecem coisas que convocam que a elas respondamos. Respostas que, em
muitos casos, servem à nossa sobrevivência – seja física, seja emocional. O
que acontece, no entanto, é que muitas dessas respostas, conforme o tempo
avança, perdem o seu valor, tornando-se obsoletas e desatualizadas. Não são
atuais porque não correspondem aos recursos que agora possuímos, nem ao momento
que aqui vivemos. Ao invés de servirem ao nosso crescimento, alimentam certa
estagnação, por mais que pareçam adequadas. Surgem, então, diversos
problemas – sejam relacionais, interpessoais ou mesmo individuais. É o nosso
organismo nos convidando a olhar para dentro e reconhecer que, quem um dia
precisamos ser, agora já não é mais necessário.
Para
entendermos melhor, vamos pensar numa criança que cresce num ambiente cercado
por pais autoritários, ou exigentes, que demonstram alguma espécie de
afeto apenas a partir de obediência e sucesso. Temendo perder aquele
amor, aquele pertencimento familiar, tal criança, ainda sem tantos recursos,
ajusta-se de modo a se tornar a pessoa obediente que procuram, a de ótimas
notas que desejam, a de comportamento exemplar que admiram – mesmo que, ao
adotar tais posturas, deva parar de ter os interesses comuns a quaisquer
crianças... Agindo assim, garante o amor que deseja. Com amor garantido, sua
sobrevivência emocional agradece...
No
entanto, a vida continua.
Aquela
criança cresce. Torna-se adolescente. E até mesmo adulta. Nesse percurso,
quanto mais reforçada foi naquele jeito submisso e perfeccionista de ser, mais
cristalizada se encontra nessa forma. No entanto, não consegue perceber
que, se antes não tinha recursos o bastante para bancar as próprias
necessidades e os próprios interesses, agora pode se posicionar, fazer valer
aquilo que sente, aquilo que pensa e viver a partir do que acredita. Se não
o aceitarem, poderá ir em busca de lugares melhores – lugares que não a
sufoquem. Na falta dessa consciência, porém, continua agindo com submissão
a figuras de autoridade (como chefes) ou de afeto (como parceiros românticos). Continua
negligenciando a própria necessidade, os próprios interesses, privilegiando
aquilo que esperam dela – ou acredita que de si esperam – naquela ânsia por
continuar sendo aceita, amada, compreendida e acolhida...
Muitas
dessas crianças, ao tornarem-se adultas, vivem em relações abusivas e
opressoras...
A
psicoterapia, então, surge como uma oportunidade de revisão da própria vida.
Aquela criança, agora adulta, mas de certa forma ainda presa às emoções e
inseguranças de tempos passados, tem a possibilidade de compreender como
construiu sua forma de estar no mundo, quais os impactos que isso lhe traz e de
que maneira ainda tem contribuído para a sua manutenção. Pode se dar conta
do que tem perdido, do quanto tem sofrido, do que tem negligenciado, deixado de
ver... Pode, ainda, entrar em contato com os reais desejos, a raiva reprimida,
a vontade negada de ser imperfeita... A exaustão na qual se encontra por
tentar dar conta de tudo – do amor do mundo inteiro, da admiração de todas as
pessoas...
Ela
é convidada, assim, a uma reconstrução. Reconstrução que pode, sim, ser
dolorosa – afinal, passa pelo reconhecimento das faltas, das negligências,
dos abusos, dos proveitos, das situações de desrespeito, do autoengano e da
autoagressão... Mas também é libertadora... Sim, pois liberta dos
limites do outro, do contorno do mundo, para que os próprios limites e
contornos sejam, enfim, estabelecidos e a vida possa ser vivida com
autenticidade e verdade. E aquilo que esteve obsoleto, dê lugar a algo
atualizado com as necessidades do agora e as possibilidades do aqui – floresce,
assim, uma nova forma, mais saudável, mais fluida e mais livre, de no mundo
estar!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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