Encontro.
Encontro talvez seja uma palavra que defina, elegantemente, o significado da
psicoterapia. E encontro também é uma palavra que nos ajuda a compreender como
se dá esse processo tão peculiar, ímpar e permeado por particularidades que o
diferenciam de tantos outros processos que vivemos na vida. Isso porque a
psicoterapia começa com um encontro entre nós e alguém que, muito
provavelmente, nunca vimos antes. Um encontro também permeado por tantas
fantasias e expectativas. Seremos compreendidos? Obteremos respostas?
Conseguiremos a solução para aqueles problemas que nos angustiam em nosso
íntimo? Encontro que desperta ansiedades e inquietações.
Somos
olhados. Sobre nós pousam olhos atentos e interessados, curiosos e
presentes. Em um primeiro momento pode ser desconfortável. Nunca fomos
vistos assim antes. Não nos lembramos de terem se interessado por nós daquela
maneira. O que acaba despertando nossa própria curiosidade e nosso próprio
interesse. Contamos a nossa história. Até nos ridicularizamos em alguns
trechos da narrativa. Deslegitimamos a nossa luta. Desdenhamos o nosso
sofrimento. E chegamos a dizer que somos mesmos uns tolos por estarmos sofrendo
por aquelas coisas que, ao dizermos em voz alta, a nós parecem tão superficiais
e banais. Só que não recebemos a confirmação de tais fantasias e atitudes. Antes
somos interrogados sobre como é, para nós, contar a nossa história. Não é uma
pergunta confrontadora. Mas uma pergunta interessada. Aquele, diante de nós,
realmente quer saber.
Naquele
encontro, então, temos também a chance de nos encontrar com a nossa história. É
quando entramos em contato com dores e aflições, com sentimentos de
insuficiência e incapacidade. E, assim, sendo respeitados em nossas queixas
e dúvidas, começamos a entender que também podemos respeitar a nós mesmos!
O
tempo passa. O encontro com um desconhecido dá lugar ao encontro com alguém
que em nós cativa confiança e nos convida a explorar a nós mesmos com mais
respeito e generosidade. Por vezes passamos por caminhos cheios de
pedregulhos, por trechos estreitos, por momentos de densa tempestade. Até
pensamos em desistir! Como aquilo é doloroso! Mas aquele que um dia fora
um desconhecido, que agora age como um acompanhante no trajeto rumo ao nosso
interior, oferece sua mão, sua companhia, empresta a nós sua coragem e, assim,
seguimos em frente. Passamos pelos desafios. Olhamos para aquilo que não
queríamos olhar. Aceitamos que, em certa medida, produzimos o nosso sofrimento.
E compreendemos que, em tantas outras medidas, é por insistirmos em lugares aos
quais já não pertencemos que permanecemos em angústia.
O
encontro com um desconhecido se transforma no encontro conosco mesmos!
É
quando começamos a nos dar conta da nossa responsabilidade naquilo de que
reclamamos. É quando percebemos que, para além das invalidações do mundo, nós
também nos invalidamos em tantos momentos. É quando temos a oportunidade de,
para além de enxergar nossos defeitos e nossas dificuldades, sempre tão
salientes e visíveis, contemplar nossas potencialidades e nossa força, quase
sempre tão escondidas e ignoradas. Nesse encontro conosco mesmos, temos a
chance de nos encontrar com a totalidade que somos: imperfeitos, claro, mas
totalmente capazes de seguir na busca pela melhor existência que poderíamos
existir.
E
encontros, sinto muito, não se dão na pressa, na afobação, nem na grosseria. A
psicoterapia não é um lugar para correrias desenfreadas e respostas
imediatistas, muito menos lições de moral. Quando nos encontramos com
alguém, sobretudo se interessados em construir um caminho com ele, agimos com
cautela e atenção, paciência e prudência, respeito e cordialidade. Não
falamos verdades cruéis. Nem desmerecemos a sua presença. Antes polimos
nossas palavras e demonstramos prazer em sua companhia! É assim que a
psicoterapia deve funcionar: como um encontro carinhoso. Não
significa que deva ser um encontro para mimos, nos quais apenas ouviremos
coisas fofas e bonitas a respeito de nós. Mas dá para verdades serem ditas
de forma firme e amorosa para que, também firmes e amorosos para conosco
mesmos, assumamos a autoria por aquilo que buscamos viver! O processo pode
ser lento, não por uma inabilidade do profissional ou por uma incapacidade do
paciente, mas porque é assim que na vida as coisas funcionam: plantamos hoje
para colher daqui alguns meses ou anos. Qualquer um que prometa o
contrário está, na verdade, em sua ignorância e desconhecimento, prometendo
desencontros.
Um
feliz dia do psicólogo!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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