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[Reflexão] Encerramentos

 


“Um relacionamento excepcional não é o que tem um bom início, mas o que tem um bom desfecho. Os relacionamentos costumam começar por acaso, mas, quando se trata de terminá-los, normalmente temos escolhas. Escolha o desfecho com sabedoria” (Haemin Sunim)

 

Não acredito que entramos em nossos relacionamentos cogitando que terminem. Queremos construir algo que seja duradouro. Ao menos quando estamos convictos do que fazemos, quando somos genuínos em nossa entrega, quando não estamos preocupados em performar ou cumprir a “cartilha da vida”, mas interessados em desfrutar daquilo que é sentido pelo coração e compreendido pela alma... Quando é assim, entramos em uma relação vislumbrando que os anos se passarão, até mesmo findarão, mas aquilo que estamos construindo ecoará pela eternidade.

 

Pode parecer romântico. Talvez alguns vejam como certa ingenuidade. Só que, sinceramente, não acho que seja. É claro que percalços precisam ser encarados, obstáculos precisam ser vencidos, tempestades precisam ser enfrentadas. Não contar com tais adversidades é que seria ingênuo. Afinal, estamos falando do encontro entre pessoas diferentes, vindas de universos diferentes, com costumes e interesses diferentes. Concordância serena e constante seria impossível. Restam as oportunidades da escuta e as aberturas do diálogo. Coisas também difíceis, eu sei. Sobretudo num mundo de tantos falantes, mas poucos ouvintes. No entanto, quando o sentimento é real e o propósito autêntico, dispomo-nos ao melhor que podemos fazer.

 

Só que, por vezes, o nosso melhor não é o suficiente. Ou deixa de ser.

 

Apesar de acreditar que adentramos nossas relações esperando que durem para sempre, também sei que elas acabam. Algumas não. Algumas duram dezenas de anos de forma inspiradora. Porém outras acabam, findam-se, chegam ao seu fim. Muitas começaram de repente, inesperadamente, através de um sorriso envergonhado no vagão do trem. Mas terminam de maneira turbulenta, barulhenta, com trocas de ofensas, mágoas e ressentimentos. É curioso pensar que numa hora parece que conhecemos a pessoa mais incrível do mundo! E na outra é como se ela tivesse se transformado em nosso maior inimigo. Isso acontece dadas as escolhas que fazemos ao longo do percurso.

 

Há histórias que terminam porque cumpriram com o seu propósito, entregaram a nós aquilo que precisava ser entregue. Outras porque as circunstâncias que um dia nos uniram mudaram, se transformaram, mas não fomos capazes de mudar também. E ainda outras se encerram porque nós mesmos mudamos, nos transformamos, passamos por uma renovação tão profunda na forma de ver as coisas que já não combinamos com aquele que esteve conosco por tanto tempo. É hora de aceitar que nada poderá ser como um dia foi e que talvez não seremos capazes de seguir em frente construindo algo em comum – já não há o comum.

 

Mas é difícil aceitar que fins acontecem. Então tantos de nós insistimos naquilo que perdeu o sentido, naquilo ao qual já não cabemos, naquilo que em nós já não cabe, naquilo que já não nos encanta. Pode ser que tenhamos tentado, tenhamos buscado a renovação daqueles sentimentos, o resgate daquele encanto. Mas não deu. Não aconteceu. Já não há mais espaço. Só que o novo assusta. Como será sem mais aquele ao nosso lado? Como será recomeçar em outro momento? Às vezes insistimos. Tanto. Mas tanto. Que desgastamos. Já não estamos felizes, mas fingimos estar. Já não temos interesse, mas forçamos algum. Só que aquilo que não é genuíno e autêntico se esfumaça em sua superficialidade. Está frágil. Quebradiço. As rachaduras começam a aparecer. A inconstância começa a se fazer notar. Os beijos esfriam, os abraços diminuem, a companhia já não é esperada. A história terminou.

 

Na insistência, começam cobranças. No desinteresse, elas não são atendidas. Ninguém se entende. Não consegue mais conversar. É como se não houvesse mais espaço para o diálogo. Distanciamentos acontecem. O estranhamento. Aquela sensação de que o amor acabou. Não é que o amor tenha acabado, ele só não é mais o bastante para uma vida! Na dificuldade de fluir, tornamos feio o que um dia foi tão belo.

 

Saiba como encerrar as suas histórias. Os desfechos não precisam ser trágicos, turbulentos, repletos de marcas difíceis de cicatrizar. Como podemos trocar flores por ofensas? Como podemos trocar carinhos por agressões? Como podemos ferir a alma de alguém que um dia dissemos amar? No amor também está contido o saber encerrar aquelas histórias que já não podem continuar. O amor não é prisão. Mas liberdade. E por vezes amar também será deixar ir o que não pode mais ficar.

 (Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)

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