Por muito tempo me vi criticando a mim mesmo.
Procurando por defeitos. E me sacrificando em uma busca inconsequente por uma
perfeição inexistente. Podem dizer que foram pelas experiências que tive.
Afinal, nem sempre tive a sorte de ter pessoas saudáveis ao meu lado. E digo
saudáveis porque quero evitar rótulos como “ruins”, “doentes” ou “más”. Digo saudáveis porque nem sempre tive a
chance de estar por perto de pessoas que tivessem o mínimo necessário de
conhecimento sobre suas limitações e intimidações, sobre seus atos e suas
atitudes. E algumas delas me feriram. Talvez ainda firam. Com palavras, com
olhares, com gestos. Já zombaram. E já riram. Já criticaram o meu jeito de
existir. Então talvez digam que essas coisas contribuíram para a visão negativa
que por vezes tive a meu respeito (e talvez ainda tenha, afinal, estou em
processo de cura, ou de procura, como ouvi certa vez – procurando a mim mesmo).
Ou talvez acrescentem que estejamos em um mundo que nos deprime a todo o
momento com ofertas e idealizações que são exigentes demais para a natureza
humana. E talvez todos estejam certos. Mas
o ponto é que por muito tempo me reprovei e diminuí – e talvez ainda
reprove e diminua, embora em intensidade menor. E a intensidade só diminuiu porque eu percebi o quanto posso ser meu
maior carrasco enquanto que deveria ser o meu mais especial amigo. Afinal
de contas, estarei comigo, em minha presença, pelo resto da minha eternidade.
Tudo bem, experiências ruins podem ter contribuído para uma relação pouco
satisfatória que estabeleci comigo mesmo. Mas não sou mais o menino amedrontado
ou o adolescente retraído. Não que o medo e o retraimento não façam mais parte
de quem sou. A questão é que essas são partes minhas assim como a lealdade e a
constância que identifico como presentes em mim. Então por que só alimentei o
medo e o retraimento? Por que só dei foco ao que essas partes resultavam em
mim? Entendi que podem ter feito coisas
horríveis comigo, quando eu menos merecia, quando eu só queria viver no meu
canto. Mas a perpetuação do sofrimento é de minha responsabilidade. E
continuarei sofrendo enquanto não for capaz de aceitar minha história e minha
personalidade. Continuarei sofrendo enquanto tentar rejeitar quem sou por ter
aprendido a odiar quem eu não posso deixar de ser.
Então eu me aceito.
Esse é o caminho mais difícil, eu confesso, porque
aceitar-me significa aceitar todas as minhas partes. Inclusive as que
chamaríamos de ruins. Preciso aceitar minha insegurança, mas também posso
aceitar minha persistência. Preciso aceitar minha desconfiança, mas também
posso aceitar minha capacidade de ser acolhimento a quem necessita. É claro que
preciso aceitar o meu jeito discreto, por vezes tímido e introvertido de ser,
mas também preciso aceitar a minha parte espontânea que se aflora e se
engrandece quando diante de mim está uma página em branco ou alguém interessado
em compartilhar conhecimento. Não sou
apenas aquele menino que não deixavam ser como era. Nem aquele adolescente que,
por cujo silêncio, era perseguido. Embora eles ainda habitem em mim, não são os
únicos que tenho comigo. Porque também tenho aquele menino sempre tão curioso
por aprender e aquele adolescente sempre tão ávido por questionar. E hoje
me sinto um jovem complexo e difícil. Nem eu me entendo às vezes. Apenas sei
que se não me aceitasse, viveria para sempre condenado a um ódio que não
estaria vindo de outra fonte se não de mim mesmo. Ainda que tenha a
contribuição de experiências externas, e não vou ignorar isso. Mas é aquela
história, né... Não importa o que a vida
fez com você (embora tenha doído e tenha sangrado, embora tenha me feito
sentir indigno e não merecedor), importa
o que você fará com o que a vida fez de você (e eu espero que isso
signifique dizer que vou inspirar a tantos outros que, feridos pela vida, ainda
não entenderam que apenas eles podem se curar a partir do momento no qual forem
capazes de se aceitar: aceitar suas dores e seus lamentos, aceitar também suas
potencialidades e suas forças – aceitarem
sua responsabilidade pela vida que pretendem viver, pela pessoa que esperam
ser, livres de dores antigas, disponíveis aos frescores vindouros).
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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