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[Reflexão] Quando formos memória

 


Às vezes parece que nos esquecemos de que a vida é absolutamente imprevisível, de maneira que o que aconteceu hoje talvez nunca mais aconteça, porque basta um segundo para que a vida se transforme por completo. Às vezes ficamos tremendamente ansiosos pelo primeiro dia de nossas experiências, pelo primeiro encontro com aquela pessoa especial, pela primeira vez que viveremos uma situação que há tempos idealizamos. E tudo bem. O desconhecido nos causa ansiedade realmente e nos energiza a viver com intensidade tudo o que nos for possível. No entanto, não é o primeiro dia que ficará na memória de nossos amigos da faculdade, nem será o primeiro encontro que o amor de nossa vida para sempre se recordará quando precisarmos dizer adeus. Não que essas experiências caiam no esquecimento, claro que não. É só que é a despedida que deixa marcas indescritíveis demais para nosso limitado vocabulário.

 

“A despedida define o jeito que você ficará na memória” (Fabrício Carpinejar)

 

Isso porque ficamos nos questionando, quando a despedida é definitiva, como aquele último encontro poderia ter sido diferente, poderia ter sido aproveitado melhor, poderia ter sido vivido com mais intensidade. É quando nos lamentamos por termos estado distraídos. É quando nos arrependemos por termos dado mais importância às nossas diferenças do que ao fato de que, naquele momento tão único e ímpar, estávamos lá, um com o outro, um pelo outro. Como é que você gostaria que seu último encontro com alguém que ama acontecesse? Como é que você gostaria de ser lembrado? Por um sorriso gostoso? Ou pelo dedilhar incansável na tela de um celular? Por ter contado uma piada irresistível? Ou por ter xingado furiosamente aquela criança que só queria lhe mostrar o avião que atravessava o céu? Pelo abraço cheiroso e apertado? Ou por, tão apressado, mal ter comido aquele lanche e já juntado suas coisas para partir sem nem ter dado um beijo de despedida na pessoa amada? Que tipo de memória você quer ser?

 

A vida é frágil e efêmera demais. E eu sei que sabemos disso, mas de vez quando temos a experiência concreta. Dia desses eu fui atravessar a rua. Sempre sou muito cuidadoso com isso porque sei que preciso preservar minha integridade física e, infelizmente, há muitos motoristas por aí que parecem que estão fugindo da polícia quando pegam no volante e estão pouco se importando com as consequências de sua irresponsabilidade. Mas nesse dia em questão eu fui de certa forma inconsequente. O semáforo zerou, tomou a coloração amarela, percebi que alguns carros desaceleraram e, então, tratei de travessar. Um grito apavorado travou minhas pernas. “MOÇO!!!”. E um vulto branco passou bem diante dos meus olhos, a um passo de distância. Um passo. Por um passo e, na melhor das hipóteses, eu teria tido que passar por algumas sessões de fisioterapia. Por um passo e, na pior das hipóteses, hoje eu não estaria aqui, escrevendo este texto, já teria virado memória. E isso me fez perceber o quanto sou frágil e finito. O quanto que, em uma fração de segundo, tudo pode mudar nas nossas vidas e nossas despedidas serão a maneira com a qual se lembrarão de nós. Se eu sou finito e frágil você também é. Convença-se disso. A vida não está garantida. E seus últimos encontros podem se tratar disso mesmo: dos últimos encontros. Viva-os como se nada mais importasse!

 

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)



 


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